quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Shurulim

- Já está de volta, muito bem. Levou ela?
- Ela quem?
- Se eu tiver que te lembrar, vai ser desagradável. Pra você, claro.
- Ah, eu não acredito; ela ficou aqui.
- Ela está oito minutos atrasada, contando com esse instante, e mais esse, enfim, piorando.
- Estou indo, agora mesmo.

Estava no vinte e seis, entrava em uma espiral de centenas de metros, descendo agarrado à ela, claro. Meus pés mal tocavam os degraus, que eram muito mais de trinta e nove. Talvez trinta e nove mil, mas esqueci de contar, espero que ele não me cobre essa conta. Ela não falava nada. Vinte, dezesseis, treze, quatro. Nem reagia. Me deixava levá-la, como eu quisesse. Se você aí pensou em atirá-la daqui, eu pensei enquanto ainda estava na sala, com ele.

Encontrei com o monstro (Ednan) no lugar de destino e quase a joguei aos seus pés. Nem ela nem ele entenderam aquilo. Mas só ele me olhava com espanto. Ela não tinha expressão alguma. Girava, quando muito, e só.

Voltei como um farrapo, exausto. Ele tentou ser amistoso. Perguntou até da rodada de domingo do campeonato. Aos seis minutos desta cena, não consegui conter.

“Porra, descer vinte e seis andares, atravessar a Assembleia, cruzar a Rio Branco ali perto da São José, margeando a Melvin Jones até o shopping no Menezes Cortes, com uma CADEIRA?”

Ele disse "Shurulim" e saiu pra almoçar. Eu saí em seguida. E não voltei mais.

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