quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Mora aonde?

Lá estava eu, e mal sabia ele, e lá estava ele. Sob a minha mira, liquidado, sem protesto.
Meu rosto vincado pelo sol tornava-se opaco, aquela era sua bala, não minha, eu era um coadjuvante do braço gigantesco do devir, que devia estar embriagado quando resolveu vir.
Eu lhe deixei ter aquela bala pouco abaixo do lóbulo da orelha esquerda, cujo sangue suas mãos tentaram reter em vão.
Não era felicidade, era a obrigação.
Ele ouviu a sinfonia para saxofones, as canções mais douradas tocaram-lhe o rosto quando tombou ao chão e os olhos puderam tocar a superfície celeste.
Não houve aquilo de ver a vida toda num instante, teve um ou dois, no máximo três pensamentos corriqueiros: ela, a casa e o cachorro.
Só estranhou porque demorava pra deixar o corpo ali.
Ora, era eu.
Ora, era tudo aquilo ali pra dizer que eu discordava.
De mim.
Saímos dali dissonantes, eu ferido de morte enquanto aquele que não havia reconhecido.
Logo era eu de novo, me valendo de Gideão;
“É um longo caminho”, foi o que escutei dizer.
Já estava ali, segui.

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