sábado, 3 de outubro de 2009

Futebol no Sonho

Começou assim: eu estava atrasado. Isso acontece um bocado por aqui. Eu precisava ir defender o time de futebol da faculdade. Não lembro qual era o nome da instituição nem o curso que fazia, mas eu estava feliz ao ponto de não esquentar com isso. Aliás, com nada mais além do jogo. Era uma tarde bacana, cheia de sombras de prédios, como a gente vê nos pátios dos prédios em Laranjeiras, Flamengo, Botafogo; aquele vento bacana que circula onde o sol quase não bate, cheiro limpo de saguão de prédio, matiz de madeira e algum outro cheiro bom artificial que se compra no supermercado. Mas eu estava atrasado. E fico aqui descrevendo o prédio onde eu morava (sim, nos sonhos a gente sabe que MORA lá, simplesmente sabe e pronto, uma pequena certeza prévia e absoluta), deixa isso pra lá, você já sabe que eu morava num lugar dos bons.
Cheguei no local do jogo e os caras estavam todos lá, nunca tinha visto aqueles pilantras, mas sabia que eram meus melhores amigos há alguns bons anos. Eles falaram pra eu me aprontar logo, logo começaria o jogo. Então segui pro vestiário e coloquei o uniforme, uma blusa branca com gola vermelha em “vê”, como a maioria das camisas de futebol dos anos milnovecentosesetenta, por aí, com um calção vermelho, o meião branco, a chuteira azul (sim, aqui temos um elo com a realidade) e eu, ali, um atleta.
A direção e a montagem do sonho são bem esquisitas. Cortaram a maioria das cenas do jogo, restando apenas o momento crucial de uma penalidade direta pro gol adversário, que era defendido por uma garota montada em uma bateria de mais de dezesseis peças, dando suas pancadas na caixa, nos tons, nos pratos enquanto protestava quanto à distância que eu havia posto a bola: “mais longe, mais longe, isso aí!”. O time todo me apontava olhares de expectativa e apreensão, entre um olhar e outro querendo dizer “perde, filho-da-puta, pra você ver”, e eu começava a me preocupar se aquilo era realmente sério. Porque o gol não era feito de duas traves e uma barra, era feito nos fundos de uma garagem vazia, com uma escada velha de lado, manchas de óleo de carro na marca do pênalti e algumas ferramentas penduradas na parede oposta à parede da escada.
Quando ajeitei a bola na marca que a baterista pediu, não havia mais grama. Só terra preta, bem preta. Dei os passos necessários pra trás, calculando quantos eu usaria para a batida. Ia pegar de chapa, dando algum efeito à bola, embora acreditasse sinceramente que uma pessoa tocando bateria teria grandes dificuldades pra agarrar uma falta daquela distância, mesmo que muito mal cobrada. Porra, você devia ter visto como eu peguei na bola. Foi uma parábola louca, fez uma curva tão alucinada que me arrancou uma lágrima, viajou em mil rotações, que trajetória! Percebi que os caras do time ficaram admirados, ao meu redor. O outro time virou saponáceo em pó para pisos rudes. Pensei, “boa, garoto!”. Mas brotou do chão uma mesa de pingue-pongue e a bola morreu na rede. Da mesa, é claro. Aí armou-se uma confusão pra validar o gol, visto que a mesa não deveria ter aparecido assim. Se fosse pra servir de zagueiro, que já estivesse lá antes, bem antes, que tivesse evitado a penalidade inclusive. Sei que eu acordei antes da resolução do impasse, uma mulher ligou pra cá achando que era o número de um banco e eu bati palmas para que a doida na linha dançasse. Enfim, mas isso aí já é assunto de outro post.

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