quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A fantástica coleção de dias de Jack Willend!


Jack Willend segue no ônibus encarando um sol cansado de cinco e pouca da tarde, está indo fazer sua história. Ele escuta “Mannish Boy”, o Bo Diddley dizendo: “I’m a man... M-A-N”. E ele pensa, “porra, eu também sou, cara”. Não, Jack Willend não é americano. Ele vive seus dias enfileirados irregularmente em Niterói, Rio de Janeiro. Aí você me pergunta: e esse nome anglófilo? “Jack” veio dos livros que o pai lia, Willend veio do pai de seu pai de seu pai, até o primeiro Willend, cuja origem e trajetória não fazemos a menor idéia sobre. Jack tem um quarto de século já vivido e morre de medo da proximidade cada vez menor da entrada em sua terceira década. É lá que suas expectativas moram confortáveis, é pra lá que ele está indo, um pouco a cada hora, a cada semana. Mas o leme quebrou, Jack. A agulha da bússola desmagnetizou. Ele tenta propor algum acordo à si mesmo, tenta fazer o acaso de refém, tenta aparar os exageros e a forma desencadeada como se infiltraram em seus dias, que, se colocados em evidência, expoem um dia sem textura, amarelo pacas, que começa pelo meio e termina bem no comecinho de outro dia, com passeios em círculo por livros, formas, filmes, currículo, azia, água no rosto, cueca, obturação. E o tempo segue desmoronando como cartas em meio à um tufão no meio do salão do campeonato sul-americano de castelos de cartas. O diploma de Jack o espera, está lá em suas mãos, eu vejo claramente, em dezembro de dois mil e onze. Ele está de beca, entrando no auditório do clube, após terem anunciado seu nome, alguém aperta o “play” no aparelho de som e toca “Paperback Writer”, e é exatamente aí que esse instante encontra eco no refrão “melancolia-da-ida-à-faculdade” do presente, de todas estas cinco e poucas da tarde de todos os santos dias, amém. Enquanto caminha triunfante pelas tábuas enceradas e brilhantes, cercadas por olhares jubilosos e jocosos, ouve o George Harrison atacar no riff e o Paul entra contando a história de um cara que quase implora para ser lido, e aí vem uma rajada certeira de um OH, MERDA, EU DEVERIA ESTAR LONGE DAQUI! em suas bochechas de historiador de araque. Enquanto este dia não chega, vão se amontoando desordenadamente os dias amarelos, enfastiados. Já não há mais onde colocá-los. Blog, gaveta, armário, debaixo da almofada do sofá, na gaveta de verduras da geladeira, não cabe mais nada. Pelo menos, alguns de seus amigos vêm aqui visitá-lo, como Henry, Arturo, Norman, Salvatore, Dean. Mas cá pra nós, esses aí são uns babacas. Por acaso vão pendurar outro sol mais disposto às cinco e pouca da tarde, no céu do Jack? Vão comprar o pão e alguns biscoitos recheados e um vinho desses de garrafa de plástico? Claro que não! Por isso mesmo eu vejo o Jack ir e vir sem sentido algum, matar algumas aulas pra ir ao cinema e olhar nos olhos dos que passam como se fosse o maior escritor vivo pisando no solo irregular deste planeta. Vai ver que é por isso que lhe devolvem olhares empenados e obtusos. Meus amigos e amigas, Jack Willend está à deriva num oceano de possibilidades. Sem vela nem vento, sem leme, nem motor. E você, o que você faria? Jack pulou e nadou. E eu nunca mais o vi.

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