sábado, 27 de junho de 2009

Amor Supremo Coltrane Futebol Clube

Chove copiosamente. O céu reclama uns bons estrondos luminosos. Dos quadradinhos da janela que lembram barras de chocolate, as folhas encharcadas do coqueiro do vizinho do lado, que dança com o vento que não cessa. O coqueiro dança, não o vizinho, que fique claro. Eu tomo uma mistura homogênea de café requentado e água e café solúvel. Esse bairro era uma aldeia de pescadores. Ou ainda é. Sempre tem alguém pescando na Lagoa. Sempre aparecem uns peixinhos também, de manhã. Devem aparecer de noite, claro, a questão é que não percebo. A chuva aperta. Expressão imbecil. Aperta o quê? O Jacko deixou este mundo há quase três dias. Eu escrevi algo, nada de editorial de jornal carioca. Algo sobre a interferência do Jacko sobre algo que posso escrever com certa razoável propriedade: eu. Postarei um dia desses. Hoje não. Hoje eu saí da Rua das Conchas pra ver meu Glorioso Alvinegro tomar uma surra em plena casa, no Engenho de Dentro, em nosso estádio, o Niltão. O algoz foi o Goiás. Que frase legal. “O algoz foi o Goiás”. É. O “Mulheres”, do Buko, está aberto nas páginas 88 e 89 aqui na mesa do computador. A caneca do Segundo Império denuncia rastros da bebida homogênea. Aqui é um sobrado bem legal. Até quando o vizinho de baixo e sua esposa (ela geme bonito, só nota limpa, entrecortadas com suspiros e frases de incentivo) dão uma festa como a que está acontecendo agora. Muitos decibéis. Mas eu até cantarolei algumas canções. Claro, quando a azia permitiu em documento datado e assinado e completamente ácido, que eu cantasse, ou respirasse ou qualquer outra coisa. O Monobloco canta uma bela música que chama alguns Orixás, gostei. Bem gravado também, inclusive. Segunda voz bem direitinha, nossa, vou lá embaixo tomar umas cervas às custas do casal vizinho. Camisa cinco, Leandro Guerreiro, estendida sobre a impressora. Porco de cerâmica olhando pro nada, rombo na bochecha, olho maior que o outro. Camisa do Bahia Esporte Clube sobre mim. Uma cueca verde. Meias. Que merda. Meu cabelo faz uns cachos de tão grande que está. Porra nenhuma. Tá assim tão grande não. Os coqueiros molhados ainda dançam, agora mais comedidos, agora são os caras tímidos que gostariam de ser descolados, mas o máximo que conseguem são uns passinhos redundantes de deslocamento bem reduzido. Bold as Love. Eu queria ser esse disco. Carma Instantâneo. “Não perca tempo! Leia o livro 'Universo em Desencanto'”. Rá, ouvi o Tim Maia dizer isso enquanto vinha pela Avenida Brasil junto com Augusto, Xarope e Chanadinho, metade História, metade Ciências Sociais. E todo mundo fazia uníssono: “...mas lendo apreeeendi, bom senso!”. Entramos num desvio errado, tivemos que pegar o retorno pra apontar rumo à Niterói. Dei “tchau” pro lugar onde nasci. Às margens da Brasil, mas na Londres, 616. Nasci bem pra caralho. HGB. That's not writing, that's typing”. Vá se foder, Capote. Pax Romana. Ela me manda o Maiakovski. Entorpeço. Escutar “Eu quero é ver o oco” me transporta pra 1995. A azia rói meu esôfago. E a tristeza é que é um bichinho parrueta. O mundo é o queijo parmesão. “E não me chame de filho-da-puta, eu sou ARTURO BANDINI!”. Parou de chover. Faz frio copiosamente e tem alguém chorando em algum lugar. Ou se cobrindo com papelão no cruzamento da Presidente Vargas com a Rio Branco. Ou nas marquises da Miguel Couto. Terrível a sensação de não ter pra onde ir. Onde você está?

2 comentários:

Anônimo disse...

ola. me chamo leandro. sou novo nessa arte de blog. adoro indagações e navegando por ai achei o seu blog interessante. eu gosto de história, filosofia e cultura em geral. desculpa a invasão. se quiser pode me seguir. adoro trocar idéias! abraços!

Ana disse...

Essa sua escrita-relato dá um gosto de ler! É tão próxima da gente, tão lírica e tão bonita que eu acho que nem você sabe!

Beijos de quem nunca dorme.
^^