sábado, 18 de outubro de 2008

Carta ao Velho Noel

Buenoéxito, 11 de dezembro de 1988.




Querido Papai Noel,



Eu sei que sou um bom garoto. No decorrer de todo esse ano que passou, o senhor pôde perceber isso. Eu sei, eu sei. Não espere que eu vá, por conta disso, acabar com uma bic inteira fazendo uma lista esferograficamente grande demais para ser lida. Não, não. Pra falar a verdade, eu ando preocupado é com o meu futuro, que depende bastante da boa vontade do senhor em atender cada item dessa pequena listinha. Nada de presentes, sim? Autorama, Castelo de Grayskull, Lego, essas merdas todas o senhor esquece. Apenas dê um jeito de me providenciar o que vou pedir, com um diferencial logístico sensacional: o senhor começa a me entregar só daqui a vinte anos.

Segue:

- pelo menos uma xícara de café expresso por dia - com o creme anexo numa outra xícara (cabe mais!), por favor.
- nacos semanais (e bem servidos) de queijo gorgonzola - sim, pode ser o Boa Nata mesmo, sem problemas.
- pães.
- assinatura de banda larga (não, eu não quero um autógrafo gigante seu) *o senhor entenderá este anacronismo tecnológico dentro de uns dez anos.
- auxílio-locadora mensal no valor de cem pratas (não, não teremos mais cruzeiros, cruzados e cruzetas)
- auxílio-livraria no valor de duzentos e cinqüenta pratas (essa bosta de trema também vai sumir, velhinho)
- algum jeito de dormir com as canelas bem esticadas

Bom, considerando que o Juquinha e o Pedrinho são os moleques mais filhos-da-puta que eu conheço e que, mesmo assim, cada um deles pediu uma Ferrari, um Pense Bem e um Genius gigantes, além de todos os jogos lançados pro Atari (se o senhor puder, me traga River Raid IV, mas pra esse ano ainda, gosto desse jogo mas não acho o cartucho em nenhuma loja!), acho que minha lista está bastante razoável, o senhor não acha?

O senhor receberá um sinal meu pra começar a me entregar os itens. Vai ser moleza. Estarei completamente duro, tomando um café de moedas contadas, desempregado (mas cheio de idéias sensacionais) e escrevendo furiosamente num caderninho azul, numa das mesas de granito redondo do Light Café enquanto pessoas com narizes de veias estouradas passam pra lá e pra cá rindo mais alto que a música dos alto-falantes do shopping lotado.

P.S.: me desculpe pelos palavrões, sinto que não conseguirei parar de usá-los daqui a vinte anos.

P.S. 2: ah, foda-se. vou falar palavrão até ficar velho que nem o senhor.

Do seu amiguinho,

Mario A. Querubino.




2 comentários:

Anônimo disse...

A-do-rei!! amei sua facilidade em tratar de um assunto tão deliciosa e cronologicamente confuso. E não esquente se o velho Noel esquecer seus presentinhos: ele há muito esqueceu alguns meus!
beijo!

Anônimo disse...

Hahahahaha
Você escreveu isso no meio do shoping olhando para pessoas com narizes de veias estouradas?
Credo!
Está de parabéns!