quarta-feira, 30 de junho de 2010

Inútil correr

Recebera uma mensagem alertando sobre sua posição.
Tratou de sair logo daquele ponto, onde um poste o observava ameaçadoramente.
Ligou para o Roque e logo um edifício lhe escudava o flanco esquerdo; menos exposto, ordenou que dois de seus oficiais montados partissem, liberando o caminho de seus cardeais de confiança rumo ao centro. Alívio.
Enquanto homens comuns vestidos em roupas pretas tembém comuns tombavam frente aos cavaleiros, os cardeais, absortos em fé, planejavam a melhor maneira de vazar a fileira quase intacta de homens absolutamente comuns.
Torres foram derrubadas, cavaleiros e montarias abatidos, homens comuns ao chão. E ele, em suas alvas vestes, permanecia encostado junto à seu último bastião, o edifício.
Com a noite se anunciando, ela apareceu em um vestido branco, desejo nos olhos, a respiração descompassada; ele estendeu-lhe as mãos e cedeu, rei pusilânime que era. Se amaram na urgência daquele encontro: apaixonados, entregues, entorpecidos.
Após o amor, já refestelados, ele tentou trazê-la para si. Ela repeliu seus braços e levantou-se. Confuso, viu que tirava o vestido, e segurava-o, nua. Cuidadosamente, foi virando-o do avesso e vestiu-o novamente. Aquele tecido negro o encheu de um horror de morte, sentiu as pernas fraquejarem e ela se aproximou letalmente.
“Xeque-mate”, ela disse. E tudo escureceu rapidamente, em uma vertigem interminável.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei seu texto! Inusitado, sensório, lírico e contudo, matemático! Vou divulgar, posso?

ROQUE RASCUNHO disse...

obrigado, mt mesmo!!!! claro que pode!